domingo, dezembro 25

e naquele lugar...

- Então me dá um toque amanhã, se você não for fazer nada.
ele escreveu no msn.
- Aham... dou sim.
ela respondeu sem firmeza.
- Não senti firmeza nisso.
- Eu não consigo passar muita firmeza.
era verdade.
- Vou lá, amanhã estou te esperando.
- Boa noite, se cuida.
ele saiu do msn.
ela ficou com as mãos na cabeça dentro do quarto escuro, iluminado apenas pela tela, ouvindo na orelha esquerda Chico Buarque e na direita o barulho da chuva que batia no telhado e caia no chão de cimento ao lado da janela. que merda era aquela? porque ela estava deixando aquilo acontecer de novo. ela não ia ligar.


no outro dia, esqueceu.


no outro, o telefone tocou. ela não atendeu.


no outro, o telefone tocou. ela de saco cheio, atendeu.
- Fiquei esperando a sua ligação.
ela percebeu.
- Desculpa, foram dias corridos.
- Estou passando ai na sua casa agora, vou buzinar 2 vezes.
a campainha da casa dela vivia estragada, e não tinha mínima condição de ele tocar a campainha barulhenta ás 11 da noite sem acordar a família que já dormia.
- Eu estou de pijama, descabelada, a gente se vê amanhã.
- Para com isso sua boba, eu não ligo, deve estar linda.
- Não, não estou.
- Tô passando aí.
ele desligou.
ela xingou a mãe dele, levantou, amarrou o cabelo, colocou uma calça e um casaco. maldito seja. foram as duas palavras que escaparam de sua boca quando ela escutou as buzinadas ritmadas em frente ao seu portão.
lá estava ele, o vidro aberto, o carro de portas destrancadas.
- Você esta linda, sua mentirosa.
ele disse sorrindo
- Oi, estava com saudades, tudo bem?
ela perguntou forçando o sorriso. mentindo, talvez!
-Sim, eu também estava com saudades, você anda escorregadia ultimamente, te convidei um monte de vezes pra ir me visitar na casa nova e você sempre desmarcando.
- Pra você ver, é que eu to bem ocupada, esse semestre foi puxado na faculdade e eu comecei a trabalhar, tô enrolada com as coisas.
era verdade.
- Vai ficar aqui até quando?
- Mais uma semana, e você?
- Eu também... mas então, vamos dar uma volta, beber alguma coisa, matar as saudades.
ele deu aquele sorriso.
- Melhor a gente deixar pra outro dia, esta tarde, eu nem avisei meus pais que ia sair.
- Vai ser rápido, eu já te trago de volta.
- Mas...
-Sem mas, vamos lá.
idiota.
ele deu a partida no carro, feliz.
ela virou o rosto e viu as arvores correrem lá fora, enjoada.
ele falava.
ela não ouvia, mas fazia movimentos afirmativos com a cabeça.
- Vamos parar em algum lugar, pra podermos matar as saudades direito, sozinhos.
- Não.
ela passou firmeza.
- Porque?
- Tô cansada, isso não dá certo, a gente sabe.
- Dá certo sim, eu gosto de você.
- Não, nem você, nem os outros.
ela olhou para as árvores paradas, ainda enjoada.
- Como assim nem eu sem os outros?
- A gente fica se enganando, a finge que esta tudo bem, que é só diversão e que lidamos bem com isso... mas não é assim cara, as vezes o jogo acaba!
- Não fala assim amor, você sabe que eu gosto de você, te conheço á um tempão, antes de tudo somos amigos, eu quero o teu bem.
- Então me leva pra casa, senta lá na minha cozinha e vamos tomar um café, você brinca com os meus cachorros e eu lavo a louça... Não é isso que você quer né? Não me ama a ponto de não me tocar.
mais enjoada, mais enjoada, ela se sentia idiota por estar naquele lugar de novo.
- Mas eu gosto de você, por isso preciso te tocar, ficar com você.
- Quero amar sem tocar!
consegue? (...)

sábado, dezembro 17

Vá menino.




Vá menino!
Eu já senti você nas mãos.
Agora pode ir, eu também já vou.
Eu já cantei baixinho, eu já chorei, já fiquei acordada, já xinguei, menti, fingi, eu já dei todos os sorrisos que seria capaz de dar, eu já falei demais.
Eu já senti o coração apertar e sumir.
Agora podemos ir.
Eu acho que vou abrir meus olhos, beber outra coisa, falar com outra pessoa, vou mudar de casa, de tênis, de mundo, vou ser alguém pra outro alguém.
Mas não pense que vou matar aquela com quem você viveu por algum tempo... eu só vou deixa-la pra depois... pois quem sabe um dia, apareça outro igual a você, então eu vou poder viver tudo isso de novo.
Mas agora, vá menino, a gente se vê por aí, um dia, quem sabe...