segunda-feira, novembro 2

Amour Instantané II


'Ele estava lá com o cigarro entre os dedos, sentado em frente a janela, com seu bermudão jeans escuro, os cachinhos de seu cabelo balançavam com o vento e um meio sorriso nos labios.'
Essa era a visão que ela tinha da cama onde estava deitada, eram 4 da manhã, ela tinha acabado dormindo, ele não, pelo jeito estava lá, de frente com seus pensamentos, ela estava evitando se mexer, preferia ficar imóvel aproveitando a cena que tinha o prazer de presenciar, era dificil vê-lo assim tão sereno, não que ele fosse um cara muito agitado, mais era dificil vê-lo assim... daquele jeito 'diferente'.
-Durma mais, está cedo.
-Achei que você nem tinha percebido.
-Sua respiração muda quando está dormindo, você fica mais calma, quando acorda fica mais agitada, é uma mudança sutil, mais já consigo perceber esses detalhes.
Ele era fora do comum, as vezes ela se sentia em um daqueles sonhos surreais que ela costumava ter depois de um belo porre, daqueles que parecem durar a noite toda, mais que duraram apenas 1 minuto.
Ela se levanta calmamente, põe seus pés no tapete fofo e depois no chão gelado a caminho da janela, se senta ao lado dele sem dizer nada, queria ter poderes de ler pensamentos para saber o que se passava naquela cabeça agora.
Seus olhos se encontram e seu sorriso aumenta um pouco mais para o lado direito.
-As vezes os sentimentos tem um poder incrível de mudar o modo como você vê as coisas, como pensa na vida.
Ele tinha o poder de 'sorrir com os olhos'. Fazia tempo que ela não pensava realmente em Sentimentos.
-Pra isso que eles servem, pra fazer aquela odiosa revolução dentro de você, tudo vira uma bagunça quando eles se metem.
-Mais as vezes eles ajudam a arrumar o que era bagunçado, tudo depende do seu ponto de vista do 'antes e depois' dos sentimentos dentro de você.
-Ou eles podem 'arruinar' o que tem dentro de você.
Tudo bem que ela não parecia nem um pouco romantica contestando aquela bela visão de sentimentos que ele tinha, mais ela simplismente não conseguia, ou não queria, ver a parte bela da vida, pelo menos não ainda. Era um pouco cedo demais.
-Novamente a questão do ponto de vista, o sentimento de saudade pode fazer um filho procurar a mãe, o sentimento de culpa pode reatar relações interrompidas pelo tempo, já o sentimento de ódio sim pode acabar com alguem.
-O amor? o que o sentimento de amor faz?
Qual seria a opinião daquele filósofo de araque que ela encontrará a 2 meses num bar teria sobre o amor?
-O amor é o sentimento mais construtivo do universo, pois ele é a base de todas as relações humanas, mais ao mesmo tempo ele é o mais destrutivo, depende do modo como você escolhe usa-lo.
-E nós estamos usando ele agora?
Ela precisava saber.
-Sim, estamos.
Ela não gostava de respostas vagas vindas de um cara que falava o tempo todo, isso a deixava insegura, estava acostumada a ouivir suas intermináveis opiniões que as vezes até a deixavam cansada, mais naquele momento, alguma coisa dentro dela pedia uma explicação mais detalhada do que eles estavam fazendo desde o dia que haviam se conhecido.
Voltando a olhar pela janela ele continua.
-Nosso amor é um meio termo entre o saudável e o doente, seu wisky barato e meus cigarros fedorentos são um contraste com nossos lençois brancos, não que isso seja mesmo verdade, podemos dizer que é uma metáfora entre os nossos lados bons e ruins ... seremos um eterno meio termo.
Ela sorri e volta para cama.
Estava feliz em ser um meio termo.

Um comentário: